
Quando Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) divulgou, na madrugada de , uma recomendação de emergência, o clima de alerta se espalhou rapidamente pelos bares e restaurantes da capital. Dois óbitos foram confirmados – um na própria São Paulo e outro em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista – e são apenas a ponta do iceberg de nove casos de intoxicação por metanol registrados em apenas 25 dias. A gravidade está no fato de que o álcool foi consumido em bebidas falsificadas, adulteradas com uma substância altamente tóxica que pode causar cegueira permanente.
Contexto e evolução dos casos
Desde o dia , quando quatro jovens entre 23 e 27 anos foram internados depois de beber duas garrafas de gin, a Polícia Civil rastreia dez casos na capital e duas mortes confirmadas na Grande São Paulo. Em menos de um mês, o número subiu para nove vítimas, todas ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas de procedência duvidosa.
A Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad/MJSP), por meio do Sistema de Alerta Rápido (SAR), recebeu as primeiras notificações e acionou imediatamente o alerta nacional.
Recomendações oficiais e medidas de rastreabilidade
Para conter a propagação, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) e o Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Delitos contra a Propriedade Intelectual (CNCP) lançaram uma nota técnica que orienta estabelecimentos a adotar um protocolo rigoroso:
- Comprar bebidas somente de fornecedores formais, com CNPJ ativo e regular.
- Exigir nota fiscal e conferir a chave de segurança nos sistemas da Receita Federal.
- Recusar garrafas com lacres violados, rótulos desalinhados ou de baixa qualidade.
- Exigir identificação clara de fabricante, importador e lote – numeração ilegível ou repetida é sinal de alerta.
- Implementar dupla checagem de rastreabilidade antes de colocar o produto à venda.
Essas regras valem para bares, restaurantes, casas noturnas, hotéis, mercados, atacarejos, distribuidores, plataformas de e‑commerce e aplicativos de entrega.
Reações de especialistas e do setor
"O metanol é um solvente industrial que, quando ingerido, ataca rapidamente o nervo óptico e pode levar à cegueira irreversível em poucas horas", alerta a Associação Brasileira de Neuro‑oftalmologia (ABNO). O presidente da ABNO, Dr. Rafael Silva, explicou que os sintomas surgem entre 12 e 24 horas após o consumo: dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, sobretudo, visão turva ou cegueira.
Segundo o toxicologista Dr. Mariana Costa, do Hospital das Clínicas de São Paulo, "o diagnóstico precoce salva vidas. O tratamento inclui etanol intravenoso, bicarbonato para corrigir a acidez sanguínea, vitaminas como ácido fólico e, nos casos mais graves, hemodiálise".
Os proprietários de bares também se manifestam. "Nós nunca imaginamos que um lote de gin barato pudesse ser tão perigoso. Agora estamos redobrando a checagem de cada entrega", diz Carlos Mendes, dono de um bar no bairro da Liberdade.

Possíveis ligações com o crime organizado
Investigações preliminares levantam a hipótese de que o metanol tenha sido importado ilegalmente pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e repassado a fábricas clandestinas que produzem bebidas adulteradas. A associação entre o tráfico de drogas e a falsificação de álcool ainda não foi confirmada, mas autoridades consideram a pista "crucial" para desmantelar a rede.
O delegado responsável pela Operação Alerta Metanol, João Pereira, comentou que "estamos seguindo o rastro do metanol desde a fronteira até o ponto de venda, e já identificamos três lotes suspeitos".
Próximos passos e como o cidadão pode se proteger
O MJSP indica que novas fiscalizações acontecerão nas próximas duas semanas, com foco nas áreas de maior risco – ABC Paulista, interior de São Paulo e regiões próximas ao porto de Santos.
Para os consumidores, a recomendação é simples: observar atentamente o lacre, conferir a clareza do rótulo e, em caso de dúvidas, evitar a compra de bebidas muito baratas ou sem nota fiscal. Caso apareçam sintomas como visão turva ou dores fortes, procurar imediatamente um pronto‑socorro.
Até o momento, a comunidade médica alerta que “a janela de tratamento é curta”. Portanto, a informação rápida pode ser a diferença entre a vida e a perda da visão.
Frequently Asked Questions
Quantas pessoas foram afetadas pela intoxicação de metanol até agora?
Nove casos foram confirmados em 25 dias, com duas mortes confirmadas – uma em São Paulo e outra em São Bernardo do Campo. Os demais pacientes ainda estão em tratamento.
Quais são os principais sintomas de intoxicação por metanol?
Os sintomas surgem entre 12 e 24 horas após o consumo e incluem dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, sobretudo, visão turva ou cegueira repentina.
Como os estabelecimentos podem evitar a venda de bebidas adulteradas?
Seguindo as recomendações da Senacon e do CNCP: comprar só de fornecedores com CNPJ ativo, exigir nota fiscal com chave de segurança, rejeitar lacres violados ou rótulos de baixa qualidade e implementar checagens duplas de rastreabilidade.
Existe ligação comprovada entre o PCC e o metanol encontrado nas bebidas?
Ainda não há prova definitiva, mas investigações apontam que o metanol pode ter sido importado ilegalmente pelo PCC e repassado a fábricas clandestinas. As autoridades continuam a aprofundar a investigação.
O que fazer se alguém apresentar sintomas suspeitos?
Buscar imediatamente atendimento médico. O tratamento precoce com etanol intravenoso, correção de acidez e, se necessário, hemodiálise, pode salvar a vida e prevenir danos permanentes à visão.