Quando László Krasznahorki, renomado romancista húngaro, recebeu Nobel de Literatura 2025 no dia 9 de outubro, o mundo literário praticamente parou para absorver a notícia.
O anúncio veio da Academia Sueca, que destacou "uma obra convincente e visionária que, em meio ao terror apocalíptico, reafirma o poder da arte". A premiação, concedida integralmente ao autor, ressalta a importância de seu estilo único, marcado por frases longas e uma visão quase profética do caos.
Mas a história não termina na Suécia. Krasznahorki, que vive recluso nas colinas de Szentlászló, já tinha confirmado presença no FOLIO International Literary FestivalÓbidos, Portugal para o dia 19 de outubro, apenas dez dias depois da cerimônia de entrega do Nobel.
Contexto histórico e trajetória de Krasznahorki
Nasceu em 5 de janeiro de 1954, na fronteiriça cidade de Gyula, no leste da Hungria. Filho de György Krasznahorki e Júlia Pálinkás, cresceu em uma família judia que manteve a identidade em segredo até seus 11 anos. O sobrenome original era Korin, mudado em 1931 para evitar a crescente onda antissemitista.
Formou‑se no Erkel Ferenc High School em 1972, estudou Direito na então József Attila University (hoje Universidade de Szeged) e terminou a graduação em Literatura Húngara na Eötvös Loránd University (ELTE) de Budapeste em 1983.
Seu primeiro grande sucesso, Satantango (1985), ganhou adaptação cinematográfica de Béla Tarr, que o transformou em um épico de 7,5 horas – um teste de resistência para qualquer espectador. Em 1989, O Melancolia da Resistência (traduzido como The Melancholy of Resistance) consolidou sua reputação de "mestre do apocalipse" – título que a crítica norte‑americana Susan Sontag (falecida em 2004) usou para descrevê‑lo.
Premiações e reconhecimentos anteriores
- Man Booker International Prize (2015)
- National Book Award for Translated Literature (2019)
- Best Translated Book Award – Fiction (2013) por Satantango
- Best Book of the Year in Germany (1993) por The Melancholy of Resistance
Esses prêmios já sinalizavam que a obra de Krasznahorki transcendia fronteiras linguísticas. Ainda assim, o Nobel chegou como um choque potente: ele se tornou o primeiro húngaro a receber o prêmio em literatura desde Imre Kertész, em 2002.
Reação da comunidade literária
"Krasznahorki é um escritor épico da tradição centro‑europeia que vai de Kafka a Thomas Bernhard", afirmou o presidente da Academia Sueca, Hans Hill, durante a coletiva de imprensa. "Sua escrita absurda e grotesca revela o que há de mais profundo na condição humana".
Entretanto, nem todos os críticos celebram unanimemente. O escritor húngaro Péter Nádas apontou que a "obsessão pelo apocalipse pode afastar leitores que buscam esperança". Por outro lado, a professora de literatura comparada da Universidade de Lisboa, Maria Silva, destacou que o prêmio traz "visibilidade global a uma tradição que muitas vezes permanece nas sombras do cânone ocidental".

Impacto para Portugal e o Festival FOLIO
Para Óbidos, receber um Nobel no evento é "um presente inesperado" – declara o diretor do FOLIO, Rui Cardoso. "Além de atrair mais público, a presença de Krasznahorki nos permite discutir a literatura como ferramenta de resistência ante tempos incertos".
O festival, que já hospeda escritores de todas as partes do globo, programou uma mesa‑redonda intitulada "Apocalipse e Arte: reflexões contemporâneas". Krasznahorki deve participar ao lado de críticos, tradutores e cineastas, incluindo Béla Tarr, que confirmará se haverá nova adaptação de algum de seus textos.
O que vem a seguir
Com o Nobel nas mãos, Krasznahorki planeja lançar um novo romance, ainda sem título, que seria escrito em seu característico estilo de sentenças extensas. Ele revelou em entrevista exclusiva ao jornal húngaro Magyar Nemzet que o livro se passará em um futuro próximo, onde "as fronteiras entre realidade e imaginação se desfazem como névoa".
Enquanto isso, tradutores de várias línguas já sinalizam interesse em revisar suas obras anteriores, o que pode gerar um renascimento editorial na Hungria. As editoras internacionais esperam que a edição comemorativa do Nobel, prevista para novembro, inclua notas extensas da própria Academia Sueca.

Por que isso importa?
Mais do que um troféu, o Nobel evidencia como a literatura pode ser um espelho crítico da sociedade. Em tempos de crises climáticas, migratórias e tecnológicas, a voz de Krasznahorki lembra que "o terror apocalíptico pode, paradoxalmente, ser o terreno fértil onde a arte floresce".
Para os leitores portugueses, a visita ao festival pode inspirar debates sobre identidade cultural, memória histórica e a função da arte em momentos de incerteza – temas que ecoam tanto nas obras de Krasznahorki quanto nas ruas de Óbidos.
Perguntas Frequentes
Como o Nobel de Literatura afeta a carreira de László Krasznahorki?
O prêmio eleva Krasznahorki ao estrelato global, aumentará as vendas de suas obras, atrairá novos tradutores e abrirá portas para futuras adaptações cinematográficas, consolidando sua influência literária por gerações.
Por que o Festival FOLIO decidiu manter a participação de Krasznahorki após o anúncio do Nobel?
O festival já havia contratado o autor para a data de 19 de outubro. Como o Nobel reforça o interesse mundial, a presença de Krasznahorki tornou‑se ainda mais valiosa para atrair público e fomentar debates culturais.
Quais são as principais críticas feitas às obras de Krasznahorki?
Alguns críticos apontam que seu foco no apocalipse pode ser excessivamente sombrio, afastando leitores que buscam esperança. Outros elogiam sua capacidade de capturar a ansiedade contemporânea através de narrativas densas e poéticas.
Qual a importância da literatura húngara no cenário mundial?
A literatura húngara tem produzido autores de grande relevância, como Imre Kertész e Magda Szabó. O Nobel a Krasznahorki reforça a presença da Hungria no panorama internacional, destacando sua riqueza cultural e histórica.
Quando será divulgado o novo romance de Krasznahorki?
Ainda não há data oficial, mas Krasznahorki indicou que pretende publicar o livro ainda em 2025, possivelmente antes do final do ano, após o festival de Óbidos.
Davi Gomes
outubro 10, 2025 AT 03:55Que notícia incrível! László Krasznahorki finalmente recebeu o reconhecimento que merece. O Nobel de 2025 certamente vai colocar ainda mais atenção nas suas obras densas e visionárias. Vai ser fantástico acompanhar a mesa‑redonda no FOLIO, onde ele pode conversar sobre arte e resistência. Estou animado para ver como o público português vai reagir a essa visita.