Justiça rejeita queixa-crime de Leila Pereira contra Dudu por declarações nas redes sociais

Justiça rejeita queixa-crime de Leila Pereira contra Dudu por declarações nas redes sociais
por Kallman Cipriano nov, 21 2025

A Justiça de Minas Gerais derrubou, na segunda-feira, 18 de novembro de 2025, a queixa-crime movida por Leila Pereira, presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, contra o atacante Eduardo Pereira Rodrigues, o Dudu, agora jogador do Clube Atlético Mineiro. A decisão, proferida pelo juiz Luís Augusto César Barreto Fonseca da 8ª Vara Criminal de Belo Horizonte, entendeu que as publicações feitas por Dudu nas redes sociais — embora contundentes — não configuraram crime, mas sim exercício legítimo da liberdade de expressão. O caso, registrado sob o número 5017385-87.2025.8.13.0024, foi apenas o primeiro capítulo de uma batalha jurídica que envolveu os dois lados e deixou torcedores de ambos os clubes em polvorosa.

As declarações que acenderam o fogo

Entre os dias 13 e 14 de janeiro de 2025, Dudu postou em suas redes sociais frases como: "Sai do Palmeiras pela porta dos fundos" e "A presidente é falsa". A presidente do Palmeiras, que assumiu o cargo em janeiro de 2021 — tornando-se a primeira mulher a liderar o clube desde sua fundação em 1914 — interpretou isso como injúria e difamação. Ela alegou que as palavras atingiam sua honra e a imagem da diretoria, especialmente num momento em que o clube tentava manter a estabilidade após uma transferência conturbada. Mas o juiz não viu crime. "A crítica ao ambiente esportivo, mesmo que áspera, não se confunde com ofensa pessoal quando está ligada a fatos públicos e de interesse coletivo", escreveu Fonseca na sentença.

Uma guerra de processos

O que parecia um conflito isolado virou uma guerra jurídica. Em 11 de julho de 2025, Dudu revidou: entrou com uma queixa-crime contra Leila Pereira na 13ª Vara Criminal de São Paulo, alegando que ela o difamou em duas entrevistas coletivas em janeiro de 2025. Nelas, ela afirmou que Dudu causou "prejuízo milionário" ao Palmeiras por recuar na venda ao Cruzeiro e que saiu "pela porta dos fundos" — exatamente a mesma frase que ele usou. A juíza Érica Aparecida Ribeiro Lopes e Navarro Rodrigues rejeitou a ação dele na sexta-feira, 19 de novembro, com uma lógica espelhada: "As declarações da presidente dizem respeito à rescisão contratual, não a ataques morais. São opiniões dentro de um contexto esportivo, não injúria." Por que isso importa para o futebol brasileiro

Por que isso importa para o futebol brasileiro

Isso não é só sobre um jogador e uma presidente. É sobre o limite entre crítica e ofensa no mundo do futebol, onde a emoção das torcidas e os milhões em negócios se misturam. Dudu, de 33 anos, jogou pelo Palmeiras por seis temporadas (2018-2024), foi campeão da Libertadores e símbolo de um time vitorioso. Sua saída, oficializada em janeiro de 2025, foi negociada por cerca de R$ 35 milhões — uma quantia que, em tempos de crise financeira nos clubes, virou motivo de discórdia. O Atlético-MG, clube fundado em 1908 e tricampeão brasileiro, contratou o atacante por três anos, enquanto o Palmeiras, com 11 títulos nacionais e 3 Libertadores, tenta se reinventar sem seu ídolo.

Na prática, os dois processos revelam algo mais profundo: a tentativa de criminalizar o discurso esportivo. O futebol brasileiro vive um momento de tensão entre gestão corporativa e paixão popular. Quando dirigentes tratam torcedores como clientes e jogadores como ativos, é natural que as críticas se tornem mais duras. E a Justiça, neste caso, não quis virar árbitro das palavras — apenas garantir que a liberdade não se torne arma de vingança.

As consequências que ainda virão

A decisão de primeira instância pode ser recorrida — e provavelmente será. Ambas as partes têm recursos à disposição. Mas o efeito já é claro: a tendência é que dirigentes pensem duas vezes antes de mover ações penais por tweets ou lives. O precedente estabelece que, em contextos esportivos, críticas duras, mesmo quando desagradáveis, são parte do jogo. Isso pode proteger jogadores, comentaristas e até torcedores de processos abusivos. Por outro lado, clubes podem sentir que perdem poder de controle sobre sua imagem.

Contexto histórico: o Palmeiras e o Atlético-MG

Contexto histórico: o Palmeiras e o Atlético-MG

O Palmeiras, fundado em 26 de agosto de 1914, é um dos clubes mais vitoriosos do Brasil. Já o Atlético-MG, fundado em 25 de março de 1908, é um dos grandes do interior e, desde sua conquista da Libertadores em 2013, tornou-se um dos clubes mais bem estruturados do país. A transferência de Dudu foi um dos movimentos mais comentados da janela de janeiro de 2025 — não só pelo valor, mas pela simbologia: um ícone do Alviverde indo para o rival mineiro. O fato de o jogador ter feito declarações públicas logo após a transferência, e a presidente ter respondido com entrevistas agressivas, transformou um negócio em drama nacional.

Frequently Asked Questions

Por que a Justiça considerou as declarações de Dudu legais?

O juiz entendeu que as frases usadas por Dudu — como "saiu pela porta dos fundos" e "falsa" — estavam ligadas a fatos públicos da transferência, não a ataques pessoais sem fundamento. No Brasil, a Constituição protege a liberdade de expressão, mesmo quando crítica ou dura, especialmente quando envolve figuras públicas como dirigentes esportivos. A decisão seguiu precedentes de tribunais superiores que diferenciam crítica de injúria.

O que acontece agora com os processos?

Ambas as decisões são de primeira instância e podem ser recorridas aos tribunais superiores. É provável que o Palmeiras recorra da decisão de Minas Gerais, enquanto Dudu pode tentar recorrer da rejeição em São Paulo. Mas os tribunais de segunda instância costumam manter decisões que respeitam a liberdade de expressão, especialmente em casos esportivos. O risco de um novo julgamento é baixo, mas a pressão midiática continua.

Dudu realmente causou prejuízo ao Palmeiras?

A diretoria alegou que ele causou prejuízo de milhões ao recuar da venda ao Cruzeiro, mas não há documentos públicos comprovando esse valor exato. A estimativa de R$ 35 milhões da transferência para o Atlético-MG foi feita pela imprensa, não por laudos contábeis. Em termos técnicos, a rescisão de contrato é parte do jogo — e o fato de Dudu ter permanecido até o fim da temporada, jogando bem, pode até ter minimizado perdas. O "prejuízo" é mais simbólico do que financeiro.

Leila Pereira é a primeira mulher presidente do Palmeiras?

Sim. Ela assumiu a presidência em janeiro de 2021, tornando-se a primeira mulher a liderar o clube desde sua fundação em 1914. Sua gestão foi marcada por investimentos em infraestrutura e a contratação de técnicos como Abel Ferreira, que levou o time a dois títulos da Libertadores. Apesar disso, sua comunicação direta e às vezes polêmica gerou atritos com jogadores e torcedores, especialmente em momentos de transição.

Essa decisão afeta outros jogadores que criticam seus ex-clubes?

Sim. O caso estabelece um precedente claro: jogadores podem criticar ex-directorias sem medo de processos penais, desde que as críticas sejam vinculadas a fatos reais da relação profissional. Isso pode incentivar mais transparência e menos censura no futebol. Mas também pode levar a uma escalada de discursos agressivos — o que exige mais maturidade de todos os lados, não só da Justiça.

Por que o Atlético-MG aceitou Dudu sabendo do conflito?

O Atlético-MG viu nele um jogador com experiência em grandes competições, líder de grupo e com histórico de desempenho em momentos decisivos. O conflito com o Palmeiras foi visto como um risco gerenciável — e, na verdade, como um diferencial: a narrativa de "herói rejeitado" pode aumentar sua popularidade entre os torcedores mineiros. Além disso, o clube já havia lidado com casos similares antes, como o de Alex Sandro e Douglas Costa.